Memórias da minha Juventude:
Reporto-me ao adágio popular "Quem tem vagar faz colheres", também não é menos verdade que escrever é um vício, mas quase que uma mordidela que raramente cicatriza.Escrevemos, porque gostamos de escrever, mas também o fazemos, na convicção de que aquilo que escrevemos alguém lerá e daí tirará ilações. Escrevemos ainda porque enquanto e durante o tempo que o fazemos, por vezes voltamos a viver essa realidade. Sentindo as mesmas sensações, apesar de em tempos diferentes.
Tempos de criança
Com certa saudade, recordo-me dos meus tempos de criança.
Nunca poderei esquecer, as dificuldades acrescidas que me foram impostas pelos miúdos/as de Cancelos , tendo eu os meus quatro anos de idade e que não aceitaram a minha integração, só pelo pecado mortal que eu tnha ao vir viver definitivamente para o lugar de Cancelos.
Num àpice, passei de menino querido a indesejável, pois para eles uma coisa era eu estar amiúdadas vezes a particpar nas suas brinaceiras por vir a casa dos meus avós paternos, outra a ousadia de para cá ter vindo definitivamente.
Certamente porque na casa em que vim habitar, tinha aí nascido um Miúdo de nome António Pires, e como tal juntamente com os avós, passaria definitivamente a viver em Sebolido, um pouco mais acima.
Deste miúdo que com apenas um ano e pouco de vida, caíu pela ribanceira abaixo e por sorte ficou preso numa árvore, a qual o terá se livrado de morrer afogado.
O Tono Pires, não era melhor nem pior do que eu, veio a ser um traquina como todos nós, só que tinha nascido em Cancelos, e no entender deles, se calhar, eu não tinha o direito de vir habitar a casa onde ele tinha nascido, mas que meus pais tinham comprado.
A aceitação e reintegração, foi deveras penosa, mas com o tempo veio a ser plena.
Recordações:-
Ao recordar-me das brincadeiras de criança e das aventuras, quando mim mãe me obrigava a tomar conta dos meus irmão mais novos, mas tenho de me penitenciar, porque raramente cumpria essas ordem, pois o chamamento dos outros miúdos falavam mais alto eeram determinantes para o incomprimento.
Certo que o castigo era certo, mas de que valia se comecei a ficar tão malhadiço, que dia em que isso não acontecesse, levava-me a pensar estavam zangados comigo, e que me ignoravam, confesso que em dia que por incomprimentos não me castigassem, sentia ser um dia triste e diferente, dos tais dias em que falta sempre qualquer coisa de que estamosà espera.
Nesse tempo qualquer criançaa não podia brincar de manhã à noite, ois tinham que se ocupar das tarefas do dia a dia da casa, ou seja transportar a àgua necessária ao copnsumo da casa, transportada em canecos de madeira, limpar a casa, ajudando a fazer camas e a esvaziar os bacios qe se chamavam penicos e ir todos os dias todos os dias ao monte buscar lenha, para depois cozinhar e nos aquecer. Era como a formiga, amealhar de verão para gastar de inverno, só que a escassês de lenha era tal que só se arranjaria a grandes distâncias e como tal pouca se podia trazer, o que obrigava que em pleno inverno tivessemos de andar a acarretar lenha verde e a queimá-la directamente.
Morava no recanto do tapado do Coelho, ficava a mais de mil metros onde nos juntavamos todos, para dali partir para as mais variadas bricadeiras, por vezes bastante bruscas, tal era a intensidade com que as viviamos.
Fosse a jogar ao pião a nicar,as guerras de bolas de lodo, ou os barquinhos à vela, feitos de papel, casca de pinheiro, ou um de pausito ou tábuazita qualquer, enfim tudo servia para brincar havia que dar graças em cada momento à nossa imaginação, normalmente ainda acrescidas das corridas obrigatórias organizadas pelo Mudo, em que o primeiro e único prémio, era sempre uma cavilha velha, que depois de exibida pelo vencedor, lhe a tinhamos que devolver novamente, para que houvesse prémio no dia seguinte.
Cozer a Fornada:
Lembro-me perfeitamente dos dias em que se cozia a broa (Pão de Milho). Nesse dia havia sempre bolo quente, por vezes com sardinha assada no próprio bolo em que a gordura xtraída das sardinhas infiltrava-se na massa, deixando ficar nesta, um paladar excelente, comendo-se bolo quente com meia sardinha ejá se ficava satisfeito, ficando na boca aquele gosto saboroso, durante a noite, era saboreado, porque era o grande manjar dos pobres.
Na minha casa eramos sete pessoas os progenitores e cinco filhos, os ganhos eram muito escassos, prinicipalmente nos meses de inverno, uma sardinha para o Progenitor e meia sardinha para os restantes.
Ficava-se a lamber os dedos e enchia-se a barriga com mais uma fatia do tal bolo quente e a malga do caldo de couves e ás vezes feijão.
Nesse dia da cozedura, deitava-se na lareira o borralho saído do forno quente, colocando-se ali uma panela de ferro de três pernas, onde por vezes se coziam couves e batatas quando havia com uma barbatana de bacalhau ou sardinhas salgadas.
Depois de tudo bem cozido, escuava-se tudo numa escudela de madeira ou barro com muitos furos, deitando-se tudo numa grande prateira de barro vidrado e colocada em cima da mesa da cozinha, sem toalha, porque não havia, garfos de ferro, por vezes bastante negros, almotolia do azeite da terra fabricado ou extraído da azeitona, no engenho da Quinta de Santa Cruz ou na Quinta da Moira.
Depois da ceia a mãe de joelhos com os filhos à sua volta em cima do soalho de madeira ao Senhor seu Deus por tudo quanto lhe tinha sido dado nesse dia, rezando o terço, sem que ninguém arreda-se pé.
Depois disto enquanto a fogueira continua a dar calor, os mais velhos metiam a meada nos braços e desenrolavam-na para depois outros a enfiarem na agulha, enquanto o progenitor continuava a fazer rede.
Esses meus tempos de criança foram passados com enormes dificuldades, mas de felicidade plena.
Dificuldades, porque nos meses de Inverno não havia a sacra de pesca, nem dos campitos, nem mesmo o ordenado pelo trabalho de barqueiro adventicio do meu progenitros nos rabões de transporte de carvão de Germunde para o Porto.
Foram tempos dificeis mas alegres, não haviam guloseimas para ninguém, dos dois anos em diante, a papinha dos mais pequenos, era o muado ou restolho do caldo e para que houvesse muado deitavam-se no caldo quando este fervia, algumas côdeas de broa sêca e muitas vezes com bolor, trazidas pela minha prima barrota que deficiente andava a pedir. As coisas melhoravam um bocadito em épocas de fruta já que eramos hábeis a roubar a fruta dos outros.
Tarde tive calçado novo, até ai usei alpercatas de pano e sola de borracha com uns cordéis amarrados e socas de madeira com uma tira de lona ou cabedal.
Esta era a vida quotidiana das crianças do meu tempo, passava-se fome e frio, não se exigia, cumpria-se porque pedir a quem não tem é a mesma coisa é a mesma coisa que querer dar e não ter, como infelizmente era a praxe nesse tempo.
O Inverno:
Na quadra de inverno, tiritava-se de frio, o que nos valia era a lenha que na quadra de Verão se ia buscar aos montados da região, tendo sempre muita sorte porque parte dos proprietários não se zangavam de lhes tirar a lenha das suas propriedades. Eramos metidos na cama cedo, camas de ferro e com colchão de lona, cheio de palhga e centeio, com uma abertura a meio a fim de a mexer, tirarou meter mais palha onde se metiam dois ou três em cada cama, cobertois com mantas de tiras e lá se dormia sossegadamente tranquilos da vda, por vezes a ser incomodado pelos persevejos.
Conclusões:
Foi esta a vida da grande maioria das crianças do meu tempo, que hoje a nossa juventude não acredita nesta realidade, mas não me envergonho por isso porque era a vivência daquele tempo. Certas crianças hoje talvez não possam dar o valor à vida de quem ainda hoje é pobre, porque desconhecem na totalidade o que é ser pobre do antigamente. Por aqi, poderei afirmar categóricamente que os mais pobresda nossa terra actualmente, são muito mais reicos do que os ricos do meu tempo. Tempo de muita miséria e de muita penúria, mas tempo de muita amizade e de muita consideração uns para com os outros, o que hoje não encontramos mesmo com grandes conhecimentos e formações académicas. Porque hoje falta muita coisa ao ser humano, amizade, fraternidade, clareza, caridade, abnegação e o mais im poortante, a solidariede entre pessoas já que ainda haveria muito a dizer. mas ficará para outra oportunidade.
Com a devida vênia: este trabalho foi adaptado de um desenvolvido pelo saudoso Ario Soares um Rimauense, que infelizmente já não está entre nós no "Jornal a ""VOZ""
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