... Os genocídios culturais...
Se, em vez de alardear as fragilidades da 1ª República, que foram muitas, herdadas de uma monarquia escalavrada, alguém se der ao trabalho de estudar a ditadura salazarista –deverá aperceber-se da origem do morbo ainda hoje a roer-nos. A endemia, o atraso cultural assenta no desconhecimento de direitos e deveres cívicos. Vem de longe, de antes da 1ª República e de Salazar? Com certeza: basta espreitar a nossa História. Sobre a doença, que atiçou, o homem de Santa Comba ergueu o trono. Armando de Sousa e Silva publicou um livro de romagem obrigatória: Vítimas de Salazar, Carlos Ferreira Soares, anatomia de um crime, prefácio de Mário Soares (Papiro Editora). O assassínio, pela PIDE, de Ferreira Soares (Nogueira da Regedoura, 1942) é emblemático: o regime liquidava um homem perigosíssimo: inteligente, culto, samaritano -médico dos pobres-, denunciador das injustiças sociais e talvez (segundo Mário Soares) comunista. Os executantes do crime ficaram por julgar. O processo morreu no papel. E tudo continuou como antes, e ainda por mais 32 anos. Sousa e Silva reuniu elementos preciosos, abriu janelas, esboçou o panorama da tragédia nacional, que herdámos –e demora a anular. O pai de Carlos Ferreira Soares -A. Ferreira Soares-, escreveu um romance de qualidade: Casa Abatida (1943). Diz Sousa e Silva que talvez no seu espírito “pairasse a morte trágica do filho”. Não duvido: sofria o desfazer de um sonho e a infâmia de um crime. Porém, a grande casa que mais e mais se afundava era o país dos “brandos costumes”. Eis os dois escândalos denunciados:a morte dum inocente e o amordaçar de um povo, ainda a gaguejar.
transcrito com a devida vênia de OPI o outro lado Manuel Poppe cultura @jn.pt
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