domingo, 25 de julho de 2010

CRIME SEM CASTIGO

... Os genocídios culturais...

Se, em vez de alardear as fragilidades da 1ª República, que foram muitas, herdadas de uma monarquia escalavrada, alguém se der ao trabalho de estudar a ditadura salazarista –deverá aperceber-se da origem do morbo ainda hoje a roer-nos. A endemia, o atraso cultural assenta no desconhecimento de direitos e deveres cívicos. Vem de longe, de antes da 1ª República e de Salazar? Com certeza: basta espreitar a nossa História. Sobre a doença, que atiçou, o homem de Santa Comba ergueu o trono. Armando de Sousa e Silva publicou um livro de romagem obrigatória: Vítimas de Salazar, Carlos Ferreira Soares, anatomia de um crime, prefácio de Mário Soares (Papiro Editora). O assassínio, pela PIDE, de Ferreira Soares (Nogueira da Regedoura, 1942) é emblemático: o regime liquidava um homem perigosíssimo: inteligente, culto, samaritano -médico dos pobres-, denunciador das injustiças sociais e talvez (segundo Mário Soares) comunista. Os executantes do crime ficaram por julgar. O processo morreu no papel. E tudo continuou como antes, e ainda por mais 32 anos. Sousa e Silva reuniu elementos preciosos, abriu janelas, esboçou o panorama da tragédia nacional, que herdámos –e demora a anular. O pai de Carlos Ferreira Soares -A. Ferreira Soares-, escreveu um romance de qualidade: Casa Abatida (1943). Diz Sousa e Silva que talvez no seu espírito “pairasse a morte trágica do filho”. Não duvido: sofria o desfazer de um sonho e a infâmia de um crime. Porém, a grande casa que mais e mais se afundava era o país dos “brandos costumes”. Eis os dois escândalos denunciados:a morte dum inocente e o amordaçar de um povo, ainda a gaguejar.

transcrito com a devida vênia de OPI o outro lado Manuel Poppe cultura @jn.pt

Sem comentários: