terça-feira, 7 de outubro de 2008

Não Tenho Tudo O Que Amo, Mas Amo Tudo O Que Tenho

Não Tenho Tudo O Que Amo, Mas Amo Tudo O Que Tenho
Rio Douro, Midões, Cancelos e Marinha, os Meus Grandes Amores, Sebolido e Nogueira da Regedoura as minhas Paixões.
Convicções do Autor:

ACALENTAÇÃO:
Acalentei desde criança o sonho de um dia poder ter a capacidade de deixar para as gerações vindouras testemunhos que sempre pensei ser de extrema utilidade. Histórias e Vidas destas gentes hospitaleiras que perduram eternamente no meu coração
Provam que nunca foram os coitadinhos da silva, mas gentes que tinham uma fontes infinita de onde corriam o amor e carinho vindos do seu coração. A todos eles estejam onde estiverem o meu bem hajam e o meu reconhecimento eterno.
Pelo que as muitas e boas razões que sempre existiram e hoje ainda mais se justificam, quando muito daqueles que as viveram já partiram, outros em que o seu percurso normal de vida se aproxima do fim e ou as suas memórias começam a esquecer.
Mas é deste Baú de recordações que irei procurar ainda salvaguardar o tudo que for possível. Porque não conhecer acontecimentos importantes, mas também a importância da realidade e acima de tudo a disponibilidade para o fazerem
Assim não deixar desaparecer tão rica dos putos dessa geração maravilha (a chamada 5ª coluna)dos putos, os adolescentes e adultos que em tempos de enorme crise nacional criada pela tacanhez e incapacidade do Estado Novo, que em tempo de fome nos obrigasse a engendrar imaginação e dedicação.
Parte dos factos citados se calhar só aconteceram, porque perante os acontecimentos nós nos divorciávamos das adversidades da vida. Ou porque não sabíamos ou porque seria o mais aconselhável, e esta indefinição tirava o raciocínio mental e que provocava muitas vezes essa asofia motivando um viver que por vezes chegava a ser quase infernal.
Motivos para a boa disposição tinha um preço muito alto e raramente aconteciam porque depois de um ou vários dias de trabalho árduo, ganhando uma ninharia que pouco mais dava que para comprar um pequeno naco de pão, chegar a casa, ouvir os filhos gritando que tinham fome, para um bom pai era uma situação quase dramática, que mais dramático se tornava ainda para as Mães porque normalmente acabavam por pagar as favas. Para nós pescadores a vida tornava-se ainda mais complicada nos meses de inverno, porque o nosso rio nesses meses fechava a peixaria e nem uma cabeça de peixe se pescava, para nos dificultar ainda mais a vida era não se poder ir há lenha da serra, pois a lenha molhada e carregada há cabeça carregados que nem moiros e trazia-se meio boteno.
Texto da Autoria do Valdemar (Ferreira “ O MARINHEIRO”
Andralina ( nome fictício) Relato de acontecimento verídico.

(O CORDÃO)
Desde criança que foi criada com os seus avós maternos e seus Tios, dispensaram-lhe o amor e carinho que era possível naquela época. Era filha de mãe solteira, já que o Pai o Jigueiro nunca o assumiu, mas a Mãe porque a vida não lhe proporcionou um mínimo de condições pelo que nunca a levou a viver com ela, para dificultar mais as coisas veio depois uma outra irmã e que o Palhas mesmo sabendo ser o Pai e porque era casado nunca o assumiu. Foi crescendo com o apoio de alguns, mas sempre teve um tio seu que desde criança lhe dedicava uma atenção especial. Pescava com os seus avós e tio, foi crescendo o seu azar como o de muitos outros é ter crescido, pois a sua humildade e seriedade eram inquestionáveis. Ambicionava casar e casou, aspiração comum a qualquer rapariga desse tempo. Continuou a desfrutar de total liberdade de se movimentar livremente em casa desse seu tio, conhecia os esconderijos onde as poucas coisas existentes importantes eram metidas em esconderijo (Na cozinha debaixo de um papel ), era das poucas que conhecia o segredo, mas a confiança que em si depositavam era tal que era impensável questionar a sua seriedade. Puro engano. Entre essas coisas a mais valiosa era um cordão em oiro que vinha da avó) . Sempre os seus Tios e os seus Primos acreditaram que tal falta de seriedade só teve lugar motivada pelo desespero de querer dar de comer aos filhos e não ter, porque as condições que lhe eram impostas pelo marido eram más de mais para serem aceitáveis. Nesse tempo recorrer a pessoas que se faziam passar por ter um poder divino para adivinhar, os bruxos e curandeiros, foi um ver se te avias e com é evidente tudo isto trouxe despesas acrescidas em tempo de fome.. Disse a Ti Maria Pinta ( a Serralheira) que tinha a certeza que o ouro não tinha atravessado água(o rio) e que quem roubou não era de longe, o mesmo disse o ex-padre António de Valongo que pelo facto de ter ficado invisual muito novo teve de abandonar o sacerdócio. . Se foi graças a eles ou não que o roubo veio a ser descoberto, jamais se poderá provar, coincidência ou não as previsões vieram a confirmar-se. Enquanto não se descobriu quem roubou os/as alcobiteiras começaram de imediato a fazerem circular os boatos que o Marido da Dona o teria vendido para andar na Putaria e para beber copos. A um desses que teve o descaramento de lhe dizer de cara a cara e que não era verdade , a reacção só não teve um fim trágico, porque a caçadeira de carregar pela boca encravou. Como se já não fosse suficiente a perda, mais ainda quando o cordão era herança da Visavô da Elisa da Presa.
Foram tempos imensamente difíceis, tudo se procura na tentativa de pelo menos se descobrir a verdade. Como os Bruxos e Curandeiros não apresentavam resultados práticos a Ti Elisa que era uma devota do Santíssimo Sacramento da Igreja da Raiva, ofereceu mil Escudos se o Cordão aparecesse. Um belo dia ela voltou a roubar umas roupas a uma vizinha e em sinal de desnorte colocou-as no arame a secar, facilmente foi identificada e assim acabou por confessar o furto que tinha feito aos tios. A primeira reacção ainda foi a de tribunal, mas por compaixão acabaram por desistir. Como não tinham dinheiro entregaram o Cordão para cumprimento da promessa, pediram para aguardarem que quando lhes fossem possível lá iriam pagar e trazer o cordão relíquia de estimação familiar. Quando lá foram já era tarde de mais, já tinha sido. Foi uma perda de valor incalculável e que jamais foi esquecida esse desgosto pela sua perda. Mas quando se tem bom coração mais tarde ou mais cedo acaba-se por perdoar a quem se quer bem, Foi o que aconteceu a vida dela que foi curta foi de um sofrimento enorme, terminou os seus dias com um sofrimento horrível motivado pela doença incurável que a vitimou. Teve sempre o permanente acompanhamento desse seu tio que lhe continuou a querer como se fosse sua própria filha. Estejas onde estiveres descansa em paz, porque os teus Tios lesados sempre te continuaram a querer bem e cedo te desculparam, não duvidando que as razões que te levaram acto, foram razões muito fortes e por amor aos teus filhos . Por todos nós que somos filhos dos lesados também estás perdoada.

HISTÓRIA: A Garrafa d´gua Afinal Continha Lixívia Pura
São por estas e outras histórias por mim vividas que este amor Perdura
Ricas histórias vividas neste Lugar de Cancelos esta ocorreu ao fundo das hoje chamadas Escadas do Pedregal e muitas outras todas a partir deste recanto único do Tapado Coelho, totalmente ignorado por grande parte da população da Freguesia e muito em especial pelos responsáveis autárquicos que nunca se dignaram a cá virem. Mas como costuma dizer-se que os actos ficam sempre com quem os pratica.Foi durante séculos a presa de cima do Tapado do Coelho, que nós três proprietários dos terrenos envolventes temos direito a utilizar a água que aí nasce em partes iguais, como era-mos obrigados a dar passagem a quem lá tivesse em tempos de ir buscar água.Dispõe Cancelos e há mais de setenta anos de uma fonte com mina e um tanque mina essa que foi feita pelo então Presidente da Junta o Luís Barraca e de entre outros teve como ajudante Abílio Jigueiro que lá trabalhou como moço. Houve a necessidade de substituir a fonte que antes existia por baixo da agora existente que normalmente secava durante o verão e ficava imersa no Inverno quando o caudal do rio subia um pouco mais. Nessas ocasiões o Povo de Cancelos apenas tinha água das Presas do citado Tapado. Este tapado e ,localizado no terreno que o Guerra herdou existem 4 presas sendo que um debaixo é a meias comigo.Mas desta fonte também existem histórias pitorescas e que poderiam ter tido um fim trágico, mas tudo acabou em bem e durante estas décadas tem servido quando contadas para rirem principalmente pelos envolvidos. A actual fonte no verão deitava muito pouco água, por tal motivo os canecos eram mais que muitos na bicha, quando nós miúdos lá passava -mos não nos davam água se o fizessem andava-mos sempre a beber por goluzisse. Num desses dias vinha queimado de sede pedi para me deixarem beber mas não abriram excepções. Quando cheguei à Barreira chegava ao mesmo tempo descendo da casa dele o Tono Pombas com uma Garrafa branca e cheia de uma bebida branca, perguntei-lhe se era água, respondeu-me que sim e que estava fresquinha, perguntei-lhe se me dava uma pinga disse-me que sim e rapidamente entregou-me a garrafa, ainda lhe perguntei se era mesmo água e ele prontamente entregou-me a garrafa, bebi uma grande estarraçada e ele todo contente a rir-se, só que quando tirei a garrafa não conseguia nem vomitar nem tão pouco respirar, perante toda esta cena ele continuava a rir-se achando imensa piada, enquanto eu lutava desesperadamente e cada vez com maior dificuldade. Foi bom para o tratante que se divertir imenso. Porque ele sabia que me tinha dado era Lixívia. Mas ainda hoje acredito que ele não fazia a menor ideia do mal que me estava a causar e os perigos que corria. Mas lá me safei e a coisa passou ainda hoje ele se diverte com isso enquanto eu continuo a não achar muita piada, por me recordar a cena, porque me ocorre as enormes dificuldades porque passei. Mesmo assim amigo obrigado pela bebida. Sem ela a história não tinha acontecido.
Terminada no dia 6 de Outubro de 2008

O INSEPARÁVEL E INESQUECÍVEL JOLIM
Olá Fiel e Inseparável Amigo l Desde sempre te soubemos recordar e perpetuar, mas vou assumir o compromisso solene de falar um pouco mais de ti e ter a ousadia de passar a escrito tudo aquilo que tenho dito imensas vezes verbalmente. Talvez se eu te pedisse uma opinião preferirias continuar a optar pelo sofrimento em silêncio, irias com certeza preferir que não te desse a conhecer. Mas sabes que no tempo em que te deixaram viver tiveste de todos nós aqui em casa um tratamento digno. Tenho uma responsabilidade acrescida, por ter sido eu a escolher-te de entre 16 a ti ao teu irmão e uma tua irmã . Irmã essa que morreu pouco tempo depois e o teu irmão foi dado ao Wilson Rouxinol de Rio Mau que passado pouco tempo o vendeu a uns caçadores de Avintes e ele acabou por morrer algum tempo depois. Sabes que aquele acto tresloucado na pedra vinte foi um. acto irreflectido misturado com muita vaidade e o mais certo acompanhado de um copito de vinho a mais.,Encontro-me várias vezes com o Monteiro que era o Barqueiro e ele fala-me sempre de ti e recorda esse acontecimento. Foi em boa hora que te escolhi a ti de entre vários irmãos teus e que te retirei da tua mãe Menda para te meter na Lira que te alimentou. Não nos era possível alimentar a todos porque eram 16 na totalidade. Por essa ocasião muitas vezes tínhamos de comer a sopa sem azeite. Quando tudo aconteceu tinhas três meses e meio . Era impensável acreditar que tu conseguirias chegar a casa naquelas condições lastimáveis. Foste um herói porque naquelas condições sobreviver 13 dias e tão ferido ainda seguir chegar a casa não te foi fácil . O tratamento que te fizemos quando tiramos os chumbos com a barrela da cinza funcionou, ou melhor teria de funcionar porque naquele tempo não havia mais nada . Já lá vão mais de 50 ano que nos deixas-te , ele vai a caminho dos quinze, o Luis Guerra que comigo te tratou já morreu também. Resto eu e o António Monteiro que era o Barqueiro da Marca trinta, falamos várias vezes e repetimos o acontecimento. O Caixote que serviu para te meter lá dentro para que tivesses um funeral digno já desapareceu há muitos anos assim como o Pinheiro que o Quim lá Plantou, junto há tua sepultura secou, mas o lugar onde foste sepultado continua bem presente vou lá muitas vezes, acredita que sempre que lá vou te recordo. Procuro ter esse local sempre limpo. A quem nós queremos não conseguimos esquecer e eu como todos nós queríamos-te muito. Já agora quero informar-te que havia pouco tempo ainda que tinhas partido, e que a Rosa Jiqueira foi mordida por um animal que estava raivoso, valeu-lhe o empenho do teu Patrão Agostinho que rapidamente a enviou para o Hospital de Santo António no Porto. De seguida veio cá a Venatória, mandou abater todos os cães e gatos. Ganhamos com isso bom dinheiro!... Cães a um escudo gatos a vinte e cinco tostões eram mais pequenos, mas muito mais difíceis de apanhar. Foi difícil arranjar tantas cordas, para lhe o dar o nó de correr (esganado) e amarrar o pendulho. Nem te digo nem te conto quando chegou o Verão e o caudal desceu só se viam cães e gatos amarrados ao pendulho, mas compreende que esse dinheiro deu para muitos rebuçados na Loja do Ti Mário Barrigudo, do Ti Cunha e do Ti Vitorino. Já pedi várias vezes desculpa ao nosso Rio , aproveito agora para te pedir a ti. Era criança e foi uma ordem. Quero que saibas ainda que tenho tido muitos cães, a muitos deles tenho-lhes atribuído o nome que era e é pertença tua. Ainda tenho mais duas histórias uma da Ovelha Rita da minha Avô que era ruim como ela a outra de um Burro, já para não te falar dos Bifes do Hipopótamo, mas destas falarei mais a diante. Tenho imensas saudade dos Coelhos que apanhavas com a boca , os que mantinhas na cama e que muitas vezes foi fácil matá-los com o pau, e ainda daqueles que lhe levavas ao cano da espingarda e ele que sempre teve uma péssima pontaria falhava muitos, mas acertava noutros, o que permitia caçar cerca de 150 por ano em tempo de fome conseguias arranjar este sustento precioso. Nunca fui Caçador porque não gosto de armas, mas se te tivessem deixado viver se calhar até tinha sido. Como vigia as portas ficavam abertas e nós descansados porque tu mantinhas a segurança. Como brincalhão eras maravilhoso. Obrigado Jolim . Obrigado meu Fiel amigo.

ILUSÃO VITAMINADA DAS MINHAS MUITAS VIA HISTÓRIAS VERIDÍCAS
CONSEGUI O QUE AMBICIONAVA DISPÔR DE TEMPO PARA DIALOGAR COM O MEU RIOAmigo sabes melhor que ninguém . Ao saberes podes testemunhar, porque defender a verdade é um dever que se impõe, mesmo que isso nos venha a causar incompreensões e por vezes até corte de relações. Naqueles que não olham a meios para alcançarem fins. Como sabes entre nós nunca houve divórcio, que durante muitos anos existiu apenas a minha ausência física. Em inúmeras vezes te visitei ,e na minha memória nem por um instante foste desviado, como tal sei que posso contar contigo incondicionalmente. Também te habituei a ser homem de causas e não de casos, de convicções fortes e quando me apaixono essa paixão é eterna. Amigo devo uma grande parte daquilo que fui e sou em boa parte a ti, como tal permite-me que te agradeça, faço-o para que conste. Desfrutamos de uma enorme piscina de água limpa, que permite a quem o desejar e desde que cumpra com as regras elementares, poderem deliciar-se e desfrutar do teu leito, bem como das areias limpas em certos locais das tuas águas margens. Se noutros tempos as areias eram produzidas pelas correntes , onde nos era permitido fazer a praia em grandes extensões, basta apenas a exemplo citar o Areio Dórts, assim como os parques e os campos de desporto. Não nos foi oferecida esta dádiva com a intenção de um dia te virmos a agradecer. mas permite que te possamos elogiar com verdade todos os bens intencionados, porque graças a ti nos foi possível desfrutar deste laser de enorme valor . Vais continuar a nos proporcionar e peço-te que aos vindouros, mesmo que a irresponsabilidade de alguns te vão levando a sofrer imenso na tentativa de um dia acabar contigo, mas vais saber resistir porque tu és indestrutível. Força meu querido Rio Douro Amigo. Como seria de inteira i justiça tratar o boi por nome e não mudar-lhe o nome há entrada do matadouro. Acredito piamente parte da felicidade de que tenho desfrutado em toda a minha vida, em parte te devo companheiro. Como é bom poder constar que os anos passam, mas os amigos ficam e que em tempo algum mesmo quando sentimos o coração destroçado, tem lá sempre uma lugar cativo para quem queremos e amamos.. Quando se é amigo de verdade, esse amor perdura para lá da nossa muito provavelmente existência. Acredito que este era o único sitio onde poderia ter acontecido o meu nascimento. A vida que escolhi levou-me a ter de estar distante fisicamente durante alguns anos, mas sempre que te falava e confidenciava mentalmente, sentia a tua resposta de incentivo, por isso não estranha que sempre estivesse – mos tão aconchegados e será esta a principal razão para a minha constante troca de opiniões de opiniões. Mas vou aproveitar para te revelar uma inconfidência e só o faço porque em condições algumas sei que te embandeires em arco. Como sabes nos muitos anos que estive na Marinha de Guerra, onde fui Cabo Radarista, foram muitos os momentos que vivi em cima das águas do Rio Tejo, mas para não me desviar nessas histórias vou revelar-te a que mais me custou. Um dia estava fundeado ao largo no Tejo, fui receber o ordenado de Grumete como já tinha tido conta na cantina recebi cinquenta escudos. Tinha um porta Moedas que lhe chamávamos a coisa da Vaca, meti o dinheiro lá dentro e meti-o no bolso da camisa, regressei ao trabalho que era o de pintar a ponte, caiu-me as águas estavas limpíssimas o que me permitiu acompanhá-lo para desesperou meu durante muito tempo, foram várias as vezes que me ocorreu lançar-me á água para o apanhar, mas lembrava-me dos remoinhos e que se o fizesse não tinha hipótese de salvamento. Foi horrível ficar teso um mês inteiro. Não culpo o rio porque não a teve culpo-me a mim porque não tomei as devidas precauções, isto era tão simples, bastava apertar o botão. Sempre te disse que acreditava vir um dia estar novamente junto a ti. Esperava tê-lo feito mais cedo mas a vida de trabalho e o empenho para dar uma formação académica ás minhas duas filhas levaram-me a ter de trabalhar até ao limite. Mas agora disponho de tempo novamente e pretendo voltar somente no meu imaginário porque se me fosse possível fazê-lo na realidade não o aceitaria porque a minha vida de criança foi tão vivida e cheia de felicidade ,que se hoje voltasse a esse tempo de criança seria de certeza infeliz se me fosse dado a conhecer o meu passado. Como tal é com enorme satisfação que vou recordar o meu passado. Começo por voltar a ver-me a roubar as linhas de que a minha Mãe precisa para nos remendar a roupa, só porque para mim fazer rede para os pardelhos, e para amarrar os enzóis para as Espinhelas é mais importante, mesmo sabendo que isso me vai custar levar muitas tareias, voltar a roubar as canas da Índia à quinta da Seixinha, pescar ao escalo ao barbo e a todo o resto, roubar a criva da Farinha, para apanhar a Loira, mesmo que não volte a haver azeite para as fritar mas que o sabor vai ser especial, voltar a tirar os calções e atravessar o rio a nadar para Midões a partir dos cinco anos, mesmo que saiba que o meu Pai e minha Mãe me vão esperar com medo que eu morra afogado e por tal motivo não ter olhado pelos meus irmãos mais novos, vai haver treino de cinto de vergasta ou corda, mas isso pouco importa porque já estou malhadiço e a porrada não dói, o prazer é muito maior que o sofrimento da tareia e até pode acontecer que o S.Domingos faça milagre para atender a uma promessa e eu por hoje escape e não leve . Vou pegar no barco içar a vela, remar na Varzea porque aí o vento não cai, voltar a roubar as uvas na quinta do Narciso, ir comer o Atum a Bitetos, lançar a Chumbeira em Alpendurada, Roubar a Couves e Nabiças para fazer a sopa para nós os quatro pescadores de peixe miúdo e cozinhar no Areio da Seara e aguardar que a noite caia para voltar a deitar a Mugeira a noite passa depressa está para chegar o dia temos de nos apressar reduzir os lanços para que o Ronca me fique com o Peixe antes que chegue o Rouxinol ou o meu Tio Mota ,vender em primeiro também há ti Laura em Entre-os -Rios fique com mais algum para finalmente a ti Olívia em Midões ficar com o resto. Se o vendermos todo eu e o meu primo Alberto apesar de apenas eu ter dez anos vamos roubar uns tostões para comprar um maço de cigarros Quentuque para depois ser fumado por ambos . Os factos citados são relatos verdadeiros desse tempo tempo.Sabendo que jamais infelizmente poderão ser de novo realizáveis porque nem as barragens serão abertas nem os areeiros repostos mas estas citações vão permitir uma possível ilusão da pura realidade. Se por várias razões não tiver outro aproveitamento, pelo menos que sirva no futuro para que os vindouros saibam que Midões,/Cancelos e Rio Mau foram lugares onde os seus habitantes foram gente séria humilde e trabalhadora que muito deram ao meu rio e muito pouco lhe pediram em troca . Que contra factos não existem argumentos e a argumentação de alguns não serviu no passado não servirá no presente e muito menos servirá no futuro, para que no manto do nosso rio se mantenha a poluição e o matagal nas suas margens a obstruir os caminhos seculares utilizados por pescadores e barqueiros e muita outra gente que poderiam estar no presente aberto o acesso a novos pescadores sem que para isso fossem necessários grandes despesas. Mas também para que conste que o Lugar de Cancelos merecia e deveria ter com o nome de Rua dos Pescadores, uma forma simples e merecida referência aos nossos antepassados a quem nem o frio depois de dias semanas todos molhados a pescar no Areio D´ortes, nem os Pedregulhos que calcarreavam os levou a desistir do seu apego ao seu rioSe com a feitura das Barragens fizeram desaparecer coisas historicamente recomendáveis também amigo temos de reconhecer que o areal estava a secar por completo o caudal. Os aproveitamentos que se vieram a verificar das águas é uma das outras interrogações. Mas um Rio que dá água para cozinhar, lavar e de beber diariamente a mais de um milhão de pessoas, tem infalivelmente de se sentir enormemente feliz. Estou convicto que o crime maior existe nas limitações que são impostas a quem pretende uma pequena embarcação tradicional, ou a utilização de umas reditas, em lugar dos peixes que lá foram metidos ou deixados passar e que estão a destruir totalmente os peixes tradicionais, tais como o Escalo, a Voga, o Barbo a Enguia enfim, hoje verificamos que são as Lontras, os Achegás, os Percas Lúcios que vão sobrevivendo nem que para isso destruam por completo todas as outras espécies. Dói muito meu amigo a ti que em todos os Séculos te eram familiares estas espécies e agora as vezes extintas e a mim e a quem como seu nestas já largas dezenas de anos nos fomos habituando a pescá-los e saboreá-los comendo-os. Quanto há Lampreia e ao Sável já não me pronuncio uma vez que segundo os últimos estudos a sua viabilidade depois da construção da Barragem é discutível.Rio Douro ainda vai cheio. E eu e o meu Barco ainda lá anda. Tenho por cá os meus 3 Amores .Estando um daqui e o rio ao meio . E Midões no meu coração da outra banda.

O ÚNICO OJECTIVO É PERPETUAR PARA SEMPRE AS SUAS MEMÒRIAS
Das muitas casas e pessoas existentes nos Lugares de Cancelos, Midões e Rio Mau bem como na Freguesia de Pedorido, muitíssimos homens mulheres e Jovens foram pescadores, gente que apesar de tirar durante meses a sua principal e muitos casos o único fundo de rendimento tinham forma própria de lhes agradecer, o rio sabia e sabe que jamais alguma destas pessoas ousava o maltratar (tratavam-no com carinho não o poluindo). è este o registo de marca destas gentes simples e amorosa que sabiam como ninguém partilhar entre si as alegrias e amarguras da vida e que o seu rio era sempre parte integrante deste convívio e confissões. Tive o privilégio de conhecer e conviver com muitos deles, chegando a pescar com eles. Todos são dignos de uma menção especial. Não seria possível fazê-lo aqui, mas se oportunidade vier a surgir, farei um trabalho mais pormenorizado. Irei aqui referir alguns como por exemplo: O Guerguenteiro do Ti Jaquim Ferreira, homem com uma perspicaz infalível e a prová-lo: Um belo dia de pesca fugiu -lhe uma enguia da rede no Castelo e foi pescá-la passado duas horas umas milhas acima , não tendo dúvidas que era a mesma. O que ele se calhar não sabia era que a enguia apenas se movimenta numa extensão de cerca de mil metros. Do Tomas Bichinhas que sendo um péssimo pescador de cana conseguiu a proeza de ir um dia pescar ao Carneiro, tal foi o bom dia de pescaria que quando mal lançou o isco de imediato picou. Puxou a cana vieram uns óculos a puxar passava na altura uma perdiz matou-a, caiu para traz e estava um coelho na cama a dormir consegui-o caçar, preparou-os e comeu-os á noite deu-lhe semelhante volta à barriga que esteve toda a noite na sentina deu-lhe enorme soltura e teve de cagar 480 bichas, não dormiu nada nessa noite para as contar. O Agostinho Ferreira que deitava as cabaceiras no Carneiro eram tantas as Bruxas que o barco não andava nem para cima nem para baixo, não havia corrente e não ventava , como ele com o medo não remava é mais que evidente que o barco teria de estar sempre no mesmo sitio, ou ainda quando pescava com o Ti Armando Venâncio, dizia ele que boa chumbeirada está colhada deles, só que a chumbeira tinha ido parar a um campo de milho. O Ti Américo Rouxinol, Ti Abano, O Ti LuisGordinha, O Velho Carlois Rouxinol e tantos e tantos outros homens e mulheres. Estes homens e mulheres numa perfeita comunhão da natureza, cujos nhábitos herdei porque cresci com esta gente generosa. De há muitos anos a esta parte regressei ao meu cantinho, não sei se para substituir o meu Pai no seu posto, homem que teve de migrar para juntamente com sua Esposa apoiar os meus 4 irmãos, foi a pior coisa que lhe poderia ter acontecido, deixar aquilo que tanto amava, não se ausentava por muito tempo as suas presenças eram frequentes e o seu querido rio sabia que ele não o abandonava. Felizmente que ainda regressei a tempo de o substituir, assim como ele tinha substituído o meu Avô, ainda herdei o último Barco dele, bem como pardelhos, mugeira e chumbeira. Substitui o Velho Barco e concertei as velhas redes que ainda tinha. Embora já não fosse permitido Pescar lá conseguia manter a tradição, o que pescava era para comer ou dar, mas um dia que considero dos dias mais tristes de há muitos anos a esta parte, depois das oito da noite e quando nada o fazia prever apareceu uma Brigada da Guarda Fiscal e aprendeu-me as Redes, com elas foram muitas boas recordações. O meu Pai e avó mereciam que a continuasse , mas forçosamente teve de terminar um ciclo, ainda hoje sinto enormemente esta falta, mas é o preço a pagar pela modernidade, não compreendo porque nascem os peixes e morrem sem que possam ser pescados e assim dariam de d comer a muita gente. Principalmente nesta altura de crise e seria muito mais ético e proveitoso que serem outros peixes a fazê-lo.
Terminado em 7 de Outubro de 2008

DAS FRAGAS DO VALE ESCURO FALANDO COM O RIO DOURO
MAIS UMA DAS MINHAS ATRACÇÕES FATAISForam anos de enorme dificuldade para controlar a saudade nas minhas prolongadas ausências quando em terras de além mar não era viável me sentar fisicamente numa das Janelas da minha casa e assim tendo-te junto a mim falando e confiando-te segredos, principalmente pela calada da noite e nos lindas noites de luar. As saudades eram enormes do meu rio e da minha casinha, esta situada a umas escassas dezenas de metros situados no Lugar de Cancelos. Durante muitos e bons anos o meu mundo começava a partir daqui, o saborear e poder partilhar com ele os meus sonhos e trocar opiniões dando-te a conhecer as pretensões a que ambicionava. Trocar opiniões e poder auto-criticar-me quando fosse caso disso sem me expor ao Tribunal Humano que não sabe ou não compreende muitas vezes esta paixão,,viver e sentir a degradação e limitações que nos impuseram em nome do dito progresso.Durante dois anos em Terras Moçambicanas junto ao Lago Niassa em Moçambique tive a oportunidade de poder continuar a desfrutar de água Doce em Abundância, era também o responsável pela Piscina, assim se tornava mais fácil superar a falta que sentia. Mas foram tempos maravilhosos que por lá passei, mas uma coisa nunca substitui a outra, serve apenas para atenuar a saudade. No Lago Niassa em Metangula ou nos dois anos que passei em Nampula o meu escape era para a Represa ou os fins de Semana que passava na Ilha de Moçambique Antóno Enes ou Nacala, pois o interior sem água Doce ou Salgada a mim pouco me diziam. Em Nampula não havia a hipótese de comer bifes depois de matar o Hipopótamo e suportar o cheiro imundo quando ele foi aberto , ou fazer uma pega de caras às Vacas antes de serem abatidas, nem mesmo ser obrigado a comer um bocado de carne do gato da cozinha para não ser denunciado por quem o queríamos enganar impingindo-lhe gato por Coelho. e que se liam de um lado para o outro como a folha do Jornal.
Mas esta nossa ausência de encontros pode ter apressado um maior envelhecimento a ambos, mas acredito que serviu para nos proporcionar uma maior solidez no nosso relacionamento, sei que serviu para fortificar ainda mais o amor que perdura e que talvez pelo passado em cada dia que passa mais se consolida.Não fora isso e talvez as recordações permanentes dos meus tempos de criança e o registo do Pescado do Sável e Lampreia dos Barcos Rebelos e Rabões e quando ainda toda a circulação era feita via marítima, todo o transporte de mercadorias em toda a extensão do Rio eram feitos por estes barcos e pessoas. Tive a felicidade de nascer pescador e conheci os campos coloridos das batatas, feijões, couve nabiça e aboboras Os meninos, homens e mulheres de pé descalço, os caminhos junto ás margens de onde os barcos eram alados, as redes de pesca ao sável e lampreia, as cabaceiras, as chumbeiras, os aranhôs, os alares, o barbal, a mugeira, os pardelhos as redes de pesca ao barbo, enguia voga ou muge. Fui um felizardo e ainda o sou por ter caminhado juntamente com outros devagar pelos caminhos ao lado das margens, porque as pedras e os godos do areio e o lodo aqui e ali não nos permitiam apressar nem esse era o nosso desejo. Poderei não saber exprimir-me na perfeição mas era um mundo de sonho que se estendia para além do nosso olhar no seguimento das margens onde se destacam a Freguesia da Raiva, o ouvir tocar dos sinos hás Santíssimas Trindades nas Igrejas da Raiva e Sebolido e na Capela de S. Domingos da Serra davam um enorme alento..Direi mesmo que era um privilégio. Os Choupos as Nogueiras e os Castanheiros, os batatais a Couve Nabiça e os Feijões. Gosto imenso das muitas cidades que passei e vivi, os países, dos rios e mares que conheci. Mas para mim nada comparável com o amor ao meu rio, talvez por me sentir demasiado apaixonado. Na minha ausência e durante alguns anos muitas coisas foram alteradas e aquelas muitas milhas de autênticos paraísos deixaram de existir. Ainda tive a tristeza de poder assistir ao fechar da Barragem Lever/Crestuma e isso custou-me imenso na ocasião, hoje devo confessar que o aceito melhor, mas não na totalidade apesar de reconhecer que se não fosse a feitura da Barragem ainda hoje continuaria sem ter uma Ponte de Travessia, o que a verificar-se me traria um acréscimo de despesas e como tal uma maior ausência. O que não seria nada desejável Se com as alterações foram modificadas coisas, não tiraram porque ali ficaram e ali moram as memórias de todos quantos partilharam esta felicidade de serem e amarem o seu rio. Sempre que posso e faço-o de vez em quando, vou no meu Barco rio abaixo e rio acima parando nos locais onde recordo memórias da minha infância e revejo os meus antepassados. Com os compromissos assumidos e por isso quero pedir-te desculpa ainda não me foi possível este ano realizar a viagem no meu Barco “O Marinheiro”, mas espero fazê-lo logo que tal me seja possível e fica prometido para logo que haja uma oportunidade. Ser Pescador/Marinheiro amigo é compensador espero continuar a sê-lo enquanto fisicamente me for possível e mentalmente serei sempre até partir.

DAS FRAGAS DO VALE ESCURO /ABITOREIRA
As Caravanas Ciganas
Eram mais que muitas o número de pessoas e animais que se deslocavam e procurando acampar todo o tempo que lhe fosse permitido .Gente que nada tinha. Eram tantas as histórias que nos contavam que nós miúdos quando eles estivessem por perto vivíamos aterrorizados. Poucas ou nenhumas versões ouvi falar respeitante a esta Etnia que lhes desse um mínimo de credibilidade. Perante tudo isto em nós crianças existia a ideia de que eram pessoas tenebrosas. Porque disponhamos de umas Fragas tão altas onde eles não tinham mínima possibilidade de nos poder atingir, tentava -mos tudo para que não acampassem junto ao tanque de Sobradêlo, pelo que pela nossa parte o arremesso de pedras para eles não acampassem assíduo e grande maioria das vezes foi conseguido.


MIDÕES E CANCELOS FICARAM MAIS ENRIQUECIDOS
Nasceu O Puto Mimado
Publicada por v Nascia a 23 de Janeiro de 1943, num dia invernoso nascia uma criança do sexo masculino e que de acordo com o registo de assento de casamento apenas tinha seis meses e meio. Nada teria de importante este pequeno pormenor, porque o meu Pai comeu e assumiu não fosse ter durado mais de 50 anos a tentativa dele querer dizer que as coisas já íam bastante adiantadas. Sempre dizia que eu tinha uma Lua a menos nunca lhe tinha perguntado o que pretendia dizer com isso até que um belo dia quando ele já se encontrava em fase terminal da doença cancerosa que o vitimou ter sido necesssário uma Certidão para eles de acento de casamento. Foi então que ao ler a mesma me apercebi que tinham casado pelo civil em Julho do ano anterior e eu tinha nascido em Janeiro.Chegado a casa disse-lhe que pelo tempo de nascimento eu tinha a menos mais que uma Lua, foi para ele uma enorme alegria, ao invés da minha Mãe que não gostou nada do que tinha acabado de ouvir, mas depois até gostou e deu para umas gargalhadas. Mas voltando aos dias que se seguiram ao meu nascimento foram dias de enorme dificuldade já que o tempo de gravidez tinha sido difícil e o parto não foi muito fácil. Valeu a sabedoria da Senhora que assistia aos partos. Uma senhora sem formação de Enfermagem mas que com o trabalhar das mãos fazia autênticos milagres. Tive a felicidade de ainda a poder conhecer era uma Senhora fabulosa. Esteja onde estiver obrigado por me ter feito viver.Estavamos em plena Segunda Guerra Mundial as dificuldades eram enormissimas, os trabalhos não abundavam e o meu Pai que tinha em tempos sido Rachador de Lenha ( Machado que ainda hoje conservo ) tinha enorme dificuldade em arranjar trabalho. Mas como trabalhador que sempre foi durante toda a vida recuperou logo que chegou o Mês de Fevereiro com a pesca do Sável e da Lampreia. Recuperou monetáriamente e com o dinheiro ganho compraram uma casa em Cancelos terra que fica em frente de Midões apenas separada pelo Rio Douro mas a comunicação entre as duas populações eram diárias até porque tinham a possibilidade de se comunicarem falando de uma margem para a outra.Com o findar da Guerra em 1945 aparecia o meu Irmão Joaquim e para complicar ainda mais as coisas, a inquilina que habitava a casa que compramos em Cancelos resolveu não a deixar e assim ainda tivemos de estar dois anos para o conseguir e valeu a minha Mãe ter conseguido arranjar-lhe uma casa em Sebolido e pagar-lhe dezoito meses de renda. Em conformidade com a lei desse tempo assistia-lhe esse direito. Se o a cima exposto já deveria chegar. A dificultar ainda mais as coisas veio uma Doença grave ao meu Pai que o impediu de trabalhar durante oito meses.Passamos a habitar em Cancelos mas o contacto com Midões era frequente viviam aí os Familiares do lado da minha Mãe, se antes era frequente ficar em Cancelos em casa dos meus avós paternos para possibilitar a minha Mãe pescar, depois invertiam-se , ficava em casa das minhas Tias já que por volta dos 4 anos a minha avó Mãe Chica falecera.
O COMEÇO DE UMA LONGA HISTÓRIA
Deveriam -me ter recebido normalmente os miúdos de Cancelos, pois era frequente a minha presença cá no Lugar, mas ao terem conhecimento da minha mudança para a casa do Tapado do Coelho em definitivo e até talvez pelo facto do Tono Pires aqui ter nascido, dificultou imenso a minha integração.Começaram por me aquecer o corpo todos os dias, recebiam-me muito mal, e o desprezo era total. Durou algum tempo esta situação mas pouco tempo depois eu já me tinha imposto e em alguns casos até tinha conseguido virar o feitiço contra o feiticeiro.Consegui impor-me e aos miúdos e miúdas que eram muitos naquele tempo e qual deles o mais traquina, não lhes restou outra alternativa se não a de me terem de aceitar. Cedo comecei a ser mentor do Grupo.Devo confessar que não fui um bom Mentor nem o poderia ser pois os mais velhos que eu não eram boas recomendações.

CANCELOS E A SUA MOVIMENTAÇÃO:
Praticamente todo o Transporte de Mercadorias e Vinhos eram feitos pelos Barcos Rebelos e Rabões, o que nos permitia ouvir muita gente. Nos meses da Pesca ao Sável e Lampreia juntavam grande número de homens e mulheres que juntos diziam as mais variadas asneiras, o que nos permitia ouvir e a ter um conhecimento acima da média. A muita caça que existia nas Fragas e em que os Caçadores que nos visitavam nos pagavam para arremessar-mos pedras para as perdizes levantarem permitam-nos ter unas tostões para uns rebuçados e outras coisas mais.ENTRADA NA ESCOLADeveria ter entrado como qualquer miúdo, mas cedo foram avisar a professora que iriam entrar 2 miúdos que não seriam nada fáceis de controlar.Quando entrei fui logo privilegiado pela Professora teve a preocupação de não colocar nenhum miúdo ao meu lado esse lugar ao meu lado ficaria reservado para o Fifas um miúdo que era um exemplo pela negativa como eu. Veio uns dias depois do início das aulas. Mas o lugar era cativo. Ela se bem o pensou melhor o fez e para impor o respeito ainda não tinha passado meia hora e o Amadeu começou a falar, ela arremessou a régua do meu lado com tanta força que a mesma partiu ao meio. Veio logo o primeiro treino a seguir. Bateu mais a mim do que a ele pois segundo ela eu era mais culpado porque era mais velho na Escola. Estava aberto um ciclo que se iria manter até há quarta classe e o mesmo aconteceria com a Catequese, esta por outras razões e a falta de incentivo que sempre tive no que toca a religiosidade. A partir daqui era frequente fugir da Escola, facilitado ainda porque as Janelas não tinham vidros. Tivemos muitos dias de passar fome negra, porque se eu fosse a casa comer chovia. Por sorte minha o Fifas tinha o Irmão Velhilho, que era um pouco mais velho que nós e que também ele fugia constantemente, a Mãe deles a Ti Rosa deixava-lhes o comer até que um belo dia fomos experimentar se dava para entrar pela Trapeira (Chaminé ) conseguimos e a partir daqui eu comia o comer do Venhinho e as coisas melhoraram e muito. Por volta dos oito anos de idade e com medo da tareia do eu Pai decidi ficar fora de noite. No tempo em que toda a gente tinha medo de andar depois das Santíssimas Trindades, o medo da Porrada tirava-me o outro medo os meus Pai acompanhados de toda a gente andava -me procurando, estava escondido na casa velha do porco do Ti Manel Guerra e só quando jurou por duas vezes a gritar pela alma do Avô dele que me não batia eu apareci.OS CIGANOS ERAMOS NÓS


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